
LEMBRA-ME UM SONHO LINDO, MURAL DE KRUELLA D´ENFER NO TEATRO TABORDA
Tens os atacadores desatados, queres um abraço?
O 25 de Abril de 1974” lembra-me um sonho lindo”, nas palavras do cantautor Fausto e na obra mural com o mesmo título de Kruela d’Enfer. Vários assuntos se intersectam: o sonho e o sono, a Liberdade que a tudo parece dar o mote, o conceito de mural pictórico como um fresco épico da história, mas também uma poesia intima; a coluna de Trajano, ou outro qualquer monumento antigo, profanado pela natureza, por um bichinho de conta que o percorresse.
A obra no Taborda, da artista Kruela d’Enfer, tem isso: a história de um povo que segue adiante numa Primavera solar, endiabrada, em eterna adolescência capturada de tantos equívocos, com dificuldade em amadurecer, ou nunca amadurecendo; quando a significação da utopia remete menos para a sua ilusão que para a necessidade de cuidar da Democracia; de cuidar da Liberdade; de cuidar dos Outros.
Cuidar talvez seja o verbo presente nesta obra inspirada em que a pomba translúcida, a pomba da paz de vidro, frágil e
quebradiça, releva o esforço urgente, a dedicação reiterada e talvez enfim, a plenitude sentida por dedicar aos outros, filhos, amigos, desconhecidos, o melhor das nossas vidas.
Será isso que importa reter passados 50 anos do 25 de Abril de 1974? Despertarmos para os outros? Percebermos carinhosamente: tens os atacadores desatados, queres um abraço?
Carlos J. Pessoa
“Esta proposta, lembra quase um labirinto onírico, onde o teatro e o conceito de liberdade, nestes 50 anos de celebração do 25 de Abril, se entrelaçam num só. Para mim, ambos estão muito ligados como veículos de expressão e reflexão social, por isso é quase um percurso/viagem que podemos percorrer nos diferentes níveis da descida até ao jardim, ou subida até ao café, uma jornada complexa de elementos que tanto podem ser facilmente decifrados desde o miradouro, como contemplados mais de perto, sem deixar de ter leitura ou impacto. Fazer esta caminhada, pode ser visto como uma metáfora para uma jornada de descoberta interior e colectiva, onde podemos ser guiados através das memórias e sonhos de um futuro mais livre e criativo.
Alguns elementos mais evidentes: As máscaras que emergem com a suas expressões e que fazem a ponte com o teatro e o percurso de nascimento de um cravo que depois brota dentro da “cabeça” de uma das máscaras, e que faz a ponte com o 25 de Abril.
Por entre uns claustros está este pássaro / pomba com uma linha transparente, como se fosse algo frágil, de vidro ou até um elemento fugaz, como se fosse um fumo ou um brilho – uma chamada de atenção para a sua simbólica vulnerabilidade.
Com esta linguagem gráfica contemporânea, represento o espírito revolucionário que alimenta a imaginação e inspira gerações, assim como é o Teatro, e assim como é o 25 de Abril, hoje e sempre.”
Kruella D´Enfer






