DONALD TRUMP E OS BOMBONS
102ª CRIAÇÃO DO TEATRO DA GARAGEM

TEXTO E Encenação Carlos J. Pessoa
23 a 26 julho 2020
[qui a sáb 21h30, dom 16h30]
Teatro Taborda

 

Sobre Donald Trump e os Bombons:

Porquê iniciar a actividade teatral do Teatro da Garagem, pós-pandemia, 1ª vaga, com a estreia não prevista de uma peça sobre Donald Trump?

Após a hecatombe da peste, da fome e da guerra, que incendeia as ruas da América, que incendeia as almas inquietas, com dúvidas, muitas, é preciso recomeçar. É preciso retomar os ideais fundacionais do Ocidente?

É preciso, de novo, uma e outra vez: Liberdade, Igualdade, Fraternidade e um amor esquisito.

Um amor esquisito que, discretamente, se intrometa entre os slogans exauridos. Um amor esquisito pelos outros, pelas diferenças que acrescentam, pelas distâncias acentuadas que agora se encurtam, pelo detalhe do rosto do outro, da pele do outro, da dificuldade de entender o outro, de nos entendermos a nós mesmos. Um amor esquisito que começa no íntimo, sem grandes frases, com um misto de raiva e perplexidade. Um amor esquisito por contraponto ao ódio reinante. Um amor esquisito capaz de travar a mentira. Um amor pelas verdades esquisitas de cada um, pela duração inefável das verdades simples de cada um.

Na respiração do outro, que tenta respirar, em sufocação pelo vírus ou em asfixia pelo joelho de um criminoso, está a voz de cada um, a voz da urgência, a voz da injustiça, a voz da mudança. Ah George Floyd, como te podemos esquecer? E aos outros?

Que queres fazer deste mundo asfixiado? Que tudo continue na mesma? Pode continuar tudo como era, com centenas de milhares de cadáveres? Como aguentas o peso de tantos mortos? Pode continuar tudo na mesma, com o sofrimento visível, e invisível, de milhões e milhões e milhões? Consegues contá-los? Dantes era bom? Lembras-te como era? Estavas atento? Lembras-te da ganância, da cobiça, da indiferença, do egoísmo, da arrogância? Lembras-te da predação e do saque, sem quartel, do mundo? Que vida era aquela? Que vais fazer desta vida?

Se há uma némesis da boa vontade que parece acometer o teu coração, ela tem um nome: Donald Trump.

Donald Trump será uma pessoa, certamente, merecedora de toda a compaixão que um semelhante merece. Mas o Trump que nos toca, é outra coisa, é, sobretudo, uma personagem, o símbolo perverso que se levanta contra a boa vontade, contra o empenho transversal, de todos, independentemente do credo, cor ou ideologia. Trump, como máscara sem empatia, como paranóia egocêntrica não é uma questão de esquerda ou direita. Trump representa a falência da política, a perigosa deriva da política para o teatro, para a assunção da política como um baile de máscaras sem escrutínio, sem avaliação, sem mérito, nem decência, distribuindo bombons em estado de adulação. A personagem política Donald Trump não é, sequer, uma escolha, é, porventura, uma inevitabilidade civilizacional, a personificação do beco-sem-saída em que o Ocidente se encontra. Será Donald Trump como o abismo de Cila e Caribdes? Tal como no episódio da Odisseia, a perda é inevitável, quer o herói escolha Cila ou Caribdes. Para cada um de nós, descendentes da Odisseia, o caminho a tomar é difícil e tortuoso. Uma coisa sabemos, não se escolhe o abismo, não se evita o abismo, o abismo é o abismo. Donald Trump é Donald Trump. Tal como Ulisses, continuamos? Teremos à espera alguém? Penélope, ainda espera? Que amor esquisito nos move?

Fazer de Donald Trump o motivo de um manifesto teatral é uma continuidade cívica, uma obrigação democrática, uma catarse necessária, uma tareia teatral que o patife merece.

A Garagem regressa ao Teatro Taborda para dizer: não. Não, definitivamente. Não podemos aceitar que o pior de Donald Trump ainda esteja para vir. Virá Ismael? Ismael virá resgatar a Grande Baleia, o Mundo, das mãos de Ahab, do louco Ahab, do louco Trump?

Venham ao teatro, regressem ao teatro por uma boa causa.

Carlos J. Pessoa

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Texto e Encenação Carlos J. Pessoa
Assistência de Encenação Ana Palma
Interpretação Ana Palma e Rita Monteiro
Música e Sonoplastia Daniel Cervantes
Cenografia e Figurinos Sérgio Loureiro
Desenho de Luz Nuno Samora
Operação de Luz Gonçalo Morais

Direção de Produção Raquel Matos
Produção e Comunicação Joana Rodrigues
Conceção Gráfica para Comunicação Sérgio Loureiro

Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura
Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior

M/14 | duração aproximada 70 min

Bilhete Único de 8,00€. Compre aqui.

Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com

Teatro Taborda Costa do Castelo 75, 1100-178 Lisboa

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