BLACK STARS
100ª CRIAÇÃO DO TEATRO DA GARAGEM
TEXTO E Encenação Carlos J. Pessoa
13 NOVEMBRO 2020
[sEX 20h30]
Teatro MUNICIPAL DE BRAGANÇA
BLACK STARS é um espetáculo com três personagens, duas mulheres e um homem, duas atrizes e um ator, à procura do seu lugar ao sol, quando é a noite que ditou os seus destinos. Cada um tem as suas histórias, as suas expectativas, cada um tem os seus sonhos, os seus desafios que, muitas vezes, são contraditórios entre si, provocando situações patéticas e cómicas. Gostam de imaginar estrelas negras, Black-Stars, porque são estrelas diferentes, porque, eles próprios sabem, ou acreditam nisso, que não poderão ser como as estrelas, as stars de um tempo que definitivamente acabou. Terão futuro? Merecem ter um futuro bom? Claro que sim. Quando as três personagens/ator e atrizes olham para esse céu misterioso, quando se olham entre si, parecem partilhar, para lá de ansiedade, uma alegria de viver. Todos parecem sorrir.
BLACK STARS é um espectáculo que procura dar resposta cénica a um sentimento de dissolução e estremecimento que atravessa o tempo actual. Dissolução de sensatez dando lugar a uma loucura destemperada. Abalo continuado de instituições, arquétipos, conceitos, valores, que terão moldado uma paz curta, na comparação com as infindáveis guerras que marcaram a história do Ocidente. Portanto, até aqui, nada de muito grave.
O Ocidente resiste na sua dissolução? O Ocidente é esperança no seu descalabro? O Ocidente, e os seus valores fraternos, democráticos, libertários, igualitários, assinalando as contradições e perplexidade da condição humana? Haverá ainda, um fio da navalha por onde “se puede caminar” (lembrando Paco de Lucia, o músico de Algeciras, filho da portuguesa Lúcia, dedilhando flamenco/jazz numa guitarra). As doenças psico-sociais que afectam o Ocidente são, ainda assim, o lenitivo que pode ajudar cada um a cair em si, a reconstruir-se, nota a nota, compasso a compasso; dedilhando o segundo acto, o terceiro, o quarto, e por aí a fora, “lo que quieras hacer de la vida”.
Com BLACK STARS, o Teatro da Garagem recebeu um reconhecimento internacional relevante*, mas, mais importante que o reconhecimento, é essa teimosia que nos move em palco: sim, “E viveram felizes para sempre”, sim, “vai tudo correr bem!”, sim, “não tenhas medo de ter medo, nem venhas tarde, que espero por ti!”, sim, “tu sabes, tu sabes, tu tens todas as respostas dentro de ti!”, sim. Sim todos esses fracos consolos que, ainda assim, por vezes, são precisos como pão para a alma.
BLACK STARS contrapõe a ironia à histeria da indignação, “oh, que escândalo!”. BLACK STARS faz valer “um certo estilo português”, que é semente aérea, dente de leão levado pelo vento, sabe-se lá para onde.
BLACK STARS não pretende sarar feridas: há que mantê-las abertas, à flor da pele da lembrança, e suturá-las, suturá-las, para que a memória não morra, para lembrar o horror, o silêncio do horror, e calá-lo.
Todos, mas mesmo todos, merecem viver dignamente, nem que as estrelas fiquem negras. E que esconde o negro? Luto, mistério, caminhada para o outro lado, desafio para uma pretensa revelação de um mundo novo? Caramba, de novidades está o mundo cheio, até tresanda! Não, nada disso. Se calhar a estrela está no coração de cada um com os pés bem assentes na terra.
É difícil ser pessoa, é difícil viver e é bom que o seja para que não nos enganemos com mistificações, para que não vivamos com pesos a mais nas costas. Mas, é claro, quem quiser acreditar, acredite no que entender. Afinal toda a gente tem esse direito, toda a gente se queixa e todos têm as suas razões.
Ainda assim, ou por isso mesmo, prefiro não ter razão. Prefiro dizer, se houver algo a dizer, escutando. Dizer, escutando, o negrume fértil das estrelas.
*Menção Honrosa do Premio Internazionale il Teatro Nudo di Teresa Pomodoro, 2018, Milano, Itália, com o Alto Patrocínio do Presidente da República de Itália, organizado pelo Teatro No’hma, presidido por Lívia Pomodoro, jurista, ex-Presidente do Tribunal de Milão e atual Presidente da Accademia di Belle Arti di Brera, atribuído por um júri composto por: Eugénio Barba, Peter Stein, Lev Dodin, Tadashi Suzuki, Lluís Pasqual, Stathis Livatinos, Ludovic Lagarde, Ruth Heynen, Enzo Moscato e Oskaras Korsunovas.
Carlos J. Pessoa
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Texto, Encenação e Conceção Artística Carlos J. Pessoa
Interpretação Ana Palma, Pedro Miguel Jorge e Rita Monteiro
Música e Composição Sonora Daniel Cervantes
Cenografia e Figurinos Sérgio Loureiro
Desenho de Luz Nuno Samora
Operação de Luz Gonçalo Morais
Direção de Produção Raquel Matos
Produção e Comunicação Joana Rodrigues
Registo Fotográfico Marisa Cardoso
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura
Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
M/14 | duração aproximada 120 min
Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com
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