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ACOLHIMENTO

14 e 15 de março | sexta-feira e sábado às 21h00 | no Teatro Taborda

Telmah persegue a peça Hamlet de Shakespeare na tentativa de descodificar a sua relação com a morte. Num quarto só seu, ela confronta-se ao falar por correspondência com o irmão Hamlet, com a sua incapacidade de fazer o luto.  Apaziguar a morte passará por matar o fantasma dessa mesma pessoa?
A atriz Vânia Geraz e o músico Noiserv jogam com a ideia de que Hamlet somos nós. Jogo de não querer ser visto. Querer ver. Ver-se. Ver-se a ver. Ver o outro. Ver o outro a ver-me. Bem-vindo desconhecido.

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

criação
projeto Ariadne 
com
Vânia Geraz e Noiserv
 
direção artística
Vânia Geraz
apoio à criação e produção
Nídia Roque
desenho de luz e apoio ao dispositivo cénico 
Rui Seabra 
espaço sonoro
Noiserv
música
Noiserv e Vânia Geraz
design gráfico
Pedro Fonte
Co-Produção
Centro Dramático de Viana  – Teatro Municipal Sá de Miranda / Teatro das Figuras
Apoios
Projeto Matriz – Bolsa de criação do Cine-teatro de Torres Vedras / Direção-Geral das Artes


Acolhimento Teatro da Garagem

Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura


Mais informações:

Duração: 60 min
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com

ACOLHIMENTO

7 de março | sexta-feira, às 21h00 | no Teatro Taborda

 

 

 

 

 

Afonso Rodrigues, conhecido por projectos como Sean Riley & The Slowriders, apresenta ao vivo o seu novo projecto em nome próprio. Pela primeira vez, o artista aventura-se a cantar em português, num novo capítulo que surge como natural evolução do seu trajecto. A estreia deste novo projecto deu-se com o single “Já nem sei”, que rapidamente conquistou o público e a crítica. Neste espectáculo inédito, Afonso Rodrigues apresenta em primeira mão os temas que compõem o seu novo álbum, “Areia Branca”, que chegará em Março.

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Afonso Rodrigues: Voz, Viola e Piano. 
Filipe Costa: Teclados e Máquinas. 
Técnico de Luz: António Martins 
Técnico de Som: Guilherme Gonçalves

Acolhimento Teatro da Garagem

Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com

ACOLHIMENTO

6 a 9 de fevereiro | quinta-feira, às 19h30, sexta-feira e sábado às 21h e domingo às 16h30 | no Teatro Taborda

Glory Hole passa-se num lugar onde pessoas procuram sexo anónimo e rápido. Um encontro entre homens de idades e ambições relacionais diferentes gera o conflito onde passado e futuro se entrelaçam misteriosamente gerando uma imensa solidão.
A situação relacional que qualquer glory hole promove parece-nos metáfora pertinente para as redes sociais onde todos olhamos por um “glory hole” mostrando o que queremos sob o efeito de filtros sem a certeza se o que vemos do outro lado não é também ficção.

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Texto e encenação: Tiago Torres da Silva
Interpretação: Augusto Portela, Baltasar Marçal, Sandra Rosado e Tiago Torres da Silva
Fotografia: Vitorino Coragem

Acolhimento Teatro da Garagem

Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com

ACOLHIMENTO

14 e 15 de Dezembro | Sábado às 21H e domingo às 16h30 | no Teatro Taborda

5 de abril – um vetusto regime ditatorial é derrubado, entre muitas flores e poucos tiros. Um homem vagueia pelas ruas de uma Lisboa que mal conhece, na busca inglória da efervescência da revolução. Um grupo de amigos comemora o 25 de abril no dia 25 de setembro. O anfitrião, Natal, reconstrói, criativamente, os acontecimentos, de forma a enfatizar o seu próprio envolvimento na revolução. Um grupo de estudantes africanos trava uma gloriosa luta para manter a ocupação da Casa de Macau. Sob a sombra do poder colonial, a menina Purificação é raptada por um poderoso da terra, despojada de seus laços e seu passado, submetida aos desejos de um “reizinho” – o administrador do concelho, simultaneamente presidente da câmara, juiz municipal, chefe da polícia e o que mais quiser ser. No palco os eventos sucedem-se violando a cronologia sequencial, qual peças de puzzles de memórias paralelas, em distintos horizontes temporais, que se convergem em torno de cravos e liberdade.

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Texto Original: Germano Almeida
Dramaturgia: Caplan Neves
Encenação, Espaço Cénico e Direção Artística: João Branco
Interpretação: Pedro Lamares, Matísia Rocha, Manuel Estevão e Sócrates Napoleão

Direção Musical: Sócrates Napoleão
Direção de Movimento e Figurinos: Janaina Alves
Música Original: Miss Universo
Efeitos Sonoros: José Prata
Cenografista: Manuel Estevão
Desenho de Luz: César Fortes
Design Gráfico: Nuno Miranda e João Branco

Fotografia de Cena: Pedro Sardinha (FITEI)
Apoio à Residência de Escrita: Associação Caboverdiana de Lisboa
Apoio à Residência de Criação: CRL Central Eléctrica, Armazém22
Apoio à Criação de Figurinos e Cenografia: Teatro do Noroeste / CDV

Produção: Saaraci Coletivo Teatral
Produção, difusão e promoção: Companhia Nacional de Espetáculos

Apoios:
República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes e
Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril

Acolhimento: Teatro da Garagem

Apoios: Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento: Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

Mais informações:

Duração: Espectáculo: 85 min
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com

ACOLHIMENTO

 

06 de dezembro | Sexta-feira às 21h30 | no Teatro Taborda

Entrada livre

Classificação etária: M/12

Duração: 83 minutos

 

 

 

MULHERES DA BEIRA de Rino Lupo | Com A Cantadeira

Sinopse:

A 8ª edição do Salão Piolho – Cine-Concertos chega mais uma vez à cidade de Lisboa, com a missão de proporcionar um novo olhar sobre um cinema que importa recordar.No dia 6 de dezembro, sexta feira, pelas 21h30 no TEATRO TABORDA, cine-concerto MULHERES DA BEIRA de Rino Lupo, com A Cantadeira. Esta é uma iniciativa da Fundação INATEL acolhida pelo Teatro da Garagem. 

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Com: José Soveral, Branca de Oliveira, Joaquim Almada, Sarah Cunha

Legendado em português

Cópia digitalizada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema

 

Acolhimento: Teatro da Garagem

Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

 

Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com

“Arouca. O trágico devaneio de Aninhas, uma jovem e bela camponesa que, por sonhos de riqueza e fascínio amoroso, repele o afeto de André, um rústico contemplativo. Enredada pela sedução do Fidalgo da Mó, é eventualmente desprezada…”

José de Matos-Cruz

Aninhas, filha de um moleiro, é enviada diariamente para vender pão em Arouca, uma pequena vila. No caminho, ignora o amor do pastor André e, ao chegar à vila, encanta-se com o luxo e a sofisticação dos fidalgos. Em uma dessas viagens, Aninhas é seduzida pelo Fidalgo da Mó e foge com ele para o Porto, onde experimenta o esplendor da cidade. No entanto, o fidalgo rapidamente a abandona por outra amante, Clara d’Orsay. 

Sobre A Cantadeira

Joana Negrão, conhecida por sua ligação à música de tradição oral portuguesa, desde os Dazkarieh aos Seiva, traz à vida o espetáculo “A Cantadeira”. Inspirada pelas vozes das mulheres de antigamente e de hoje, Joana apresenta uma performance a solo, onde a voz é o fio condutor. Através de camadas de vozes sobrepostas e gravadas ao vivo, A Cantadeira envolve o público em paisagens sonoras que combinam o passado e o presente.

DEBATES TG

 

Não perca o CICLO GOETHITE FÁUSTICA que irá decorrer, nos dias 18 de novembro, segunda-feira, das 18h00 às 20h, e no dia 25 de novembro, das 18h00 às 21h00, no Teatro Taborda, em Lisboa. Este é um projeto organizado pelo Teatro da Garagem e Universidade Nova de Lisboa. Entrada é livre.

 

 

FAZER DISSO UM CREDO

por Carlos J. Pessoa, diretor do Teatro da Garagem

Sobre o Ciclo Goethite, é tudo bom, promissor, entusiástico!

Fazer teatro é um momento de actividade artística e cívica; um pretexto para meditar a partir dos impulsos, sugestões e inspirações, propiciadas pelo objecto artístico.

O teatro completa-se no meta-teatro, na sobreposição de leituras, na sua rarefacção, na injuncão, na aporia; alteração insubmissa, diagonal.

Quanto a Goethe, o polímata, o sabedor e des-sabedor, importa, se calhar, reter uma curta provocação, nesta idade de IA galopante: se Fausto representa o fausto, a ambição desmedida, o ver, cada vez mais, que leva à cegueira; se, por hipótese, o progresso se faz de mais e mais dados, se o petróleo do presente é a informação, mais e mais, acumulada, vectorializada, cruzada, confrontada, recombinada, em aceleração vertiginosa, à velocidade da luz, imagine-se o contrário.

O des-saber, des-acumular, o esvaziar; o vazio do copo para que o copo, de facto, possa existir.

Uma coisa oriental sem rosa dos ventos; um ponto cardeal a vadiar.

Compare-se o negrume mineral de Goethe com a matéria negra universal, por enquanto misteriosa, mas, por simpatia hipotética, expansão do contrário da acumulação: ócio como expansão do negócio, o silêncio como expansão natural do ruído.

Uma vigília musical que se entretece de momices; como o ronronar de um gato que ora aparece, ora desaparece.

Termos a contemplação em lugar da posse.

Termos um novel progresso que não se faz de ter, mas de dar; de uma falência progressiva do tecido empresarial, dos conglomerados monopolistas, em troca do regresso aos bosques da benfeitoria, do zelo, da comunhão e da ironia desmantelada de caprichos (exercício culposo talvez, sem ser fetichista, mágico ou rancoroso; um rigor de contar pelos dedos).

Uma linha de sombra.

Uma solidão artificial por oposição ao paraíso ausente, sem receio de pecados nem melancolia vã; uma história sem passado, sem trauma ou vinco; uma narrativa que se conta sem favor nem pasmo.

Uma delicada feição, um ajuizar morno.

Imagine-se então uma prática comum de co-responsabilidade, de um altruísmo específico, de inteligência fina, incorruptível porque aberta; que se presta a um sentimento de plenitude na pequena coisa, no detalhe; na insignificância livre; como um recadinho em papel de embrulho, ou uma côdea amassada na boca de uma criança.

Dispensam-se utopias, para evitar distopias, mas sabe-se disso.

Um novo mundo de pão e saliva inocente.

Um esvaziamento voluntário.

Reter a respiração e não temer a frase incompleta.

Completar-se na incompletude. Fazer disso um credo.



Ciclo Goethite Fáustica, 18 e 25 de Novembro, no Teatro Taborda

Programa organizado por Cláudia Madeira

Parceria entre o Teatro da Garagem e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

Este ciclo de conversas desenvolvido numa parceria entre o Teatro da Garagem e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa tem por objetivo ampliar e enquadrar a peça Fausto de Goethe, com estreia no Teatro Taborda, em Lisboa, no dia 28 de novembro de 2024.

Entre a Filosofia e o Cinema teremos como referência para analisar este último mito da Humanidade uma pedra mineral de nome Goethite, em homenagem ao poeta e polímata (“aquele que sabe muitas coisas”) Johann Wolfgang von Goethe (1749–1832). Estas conversas são pontes para a leitura da peça teatral e para os nossos questionamentos sobre a nossa vida de todos os dias na atualidade.

A OBRA DE GOETHE E AS METAMORFOSES FÁUSTICAS

Cláudia Madeira, Professora Associada e Vice-coordenadora do Grupo Performance & Cognição ICNOVA NOVA FCSH

A peça Fausto revela-se na duração do tempo, percorre desde a raiz das lendas, até à nossa vida atual. A versão de Goethe ultrapassa os sessenta anos que o autor dedicou a esta obra (a segunda parte foi publicada depois da sua morte) e mistura-se, como o último mito universal da Humanidade, com as nossas vivências, como num grande Athanor, esse forno alquímico onde destilamos a nossa passagem pelo mundo, onde procuramos aprendizagens e conhecimentos, encontrar perceptos e afetos, forjar concretizações hedonistas e intenções altruístas.

Na peça de Fausto, de Goethe, o pacto com Mefistófeles leva-o numa longa viagem onde encontramos os arquétipos do cientista, do amoroso, do sonhador, do incrementador ou do capitalista (Berman, 1989). Na adaptação que fizemos da sua obra, a partir da tradução de João Barrento, encontramos e, por vezes, até sublinhamos, apontamentos de outras obras de Goethe, a Metamorfose das Plantas (1790), o Jogo das Nuvens (1820), a Teoria das Cores (1810) ou o romance Afinidades Eletivas (1809), para irmos ao encontro do que na vida de Fausto é o desejo de conhecimento e o princípio do prazer. Dois movimentos essenciais da emancipação humana (Barrento 2003).

Encontramos nesta obra o limiar da ciência, o percurso alquímico do ser: “a alquimia é a arte do acabamento do homem, ela transforma os escravos em Mestres, em seres livres(…). Tal é também a perspetiva que ilumina o Fausto: a valorização da busca, do esforço, ao longo de um percurso irregular” (Centeno 2007:79). Desta forma, como nos diz Yvette Centeno: “Fausto é um homem imperfeito, excessivo, cheio de contradições – permanecê-lo-á até ao fim. Mas na alquimia o que está em jogo não é tanto a perfeição, como lembrou Jung, mas antes a plenitude – a plenitude do acabamento compreende naturalmente as faltas e os erros.” (p. 79).

O percurso alquímico surge associado aos elementos água, fogo, terra e ar mas também a cores, especialmente a três cores, o negro, o branco e o vermelho e/ou dourado. O negro associado ao nigredo, purgação, dissolução ou putrefação, personificado na primeira parte da peça pela noite da tentativa de suicídio, do desespero do confronto com uma ciência estéril que reproduz o caminho negativo percorrido pelo seu pai, uma ciência equiparada a um beco sem saída, uma ciência ilusória que mais do que cura produz morte. É desse negro, e com Mefistófeles como guia que se inicia a procura do albedo ou iluminação, a aproximação ao branco, quase atingido por via do amor por Margarida. Busca essa que falha, esgotando-o e arrastando-o num novo nigredo com a morte desta. Encerra-se nessa primeira parte da peça a história do pequeno

mundo, o mundo confinado das aldeias e vilas campestres, de uma ciência falhada e de um amor manchado.

Na segunda parte da peça, Fausto recupera e volta à sua viagem, num novo ciclo que se abre para o grande mundo, contendo em si as cinzas dessa experiência de purgação, a viagem ao interior de si mesmo para “alargar os limites do seu eu até aos limites do eu da Humanidade inteira” (Centeno 2007:87). A aurora da manhã desponta de novo. Essa viagem leva-o para lá do tempo presente a uma viagem à Grécia antiga. O encontro amoroso com Helena de Troia traduz mais um passo da sua evolução espiritual, encontra-se com o inconsciente coletivo, traz à vida o arquétipo da pura Beleza, que Fausto integra na sua experiência. Helena revela a realidade perfeita refletida no espelho da bruxa, os ideais formulados na Antiguidade, e a experiência que o arrancará aos “limites do tempo e do espaço” (Centeno 2007: 92). A plenitude é quase atingida. Mas é interrompida abruptamente, o branco da iluminação permanece por atingir, diluindo-se em centelhas de luz que de novo se dissolvem, perdendo a claridade e se tornando centelhas de luz negras, com a morte de Euphorion, o filho da beleza helénica e da coragem fáustica.

Caindo de uma nuvem, Fausto retorna ao tempo presente. Neste mundo concreto procura ser útil à Humanidade, dirigir a sua ação por via do conhecimento, e fazendo do seu laboratório o mundo todo. Deseja transformar o mar em terra fértil, em cidade utópica, num processo sem limites, possível, contudo, só por ato mágico. O seu desejo é mais forte que o seu conhecimento, a vontade transforma-se em obra, nasce o projeto de uma cidade com a ajuda de Mefistófeles, mas não se dá sem engolir o mundo natural e as suas gentes, personificadas por Báucis e Philomen. De novo, nessa inesgotável vontade de ação, Fausto abandona o pequeno mundo à sua sorte. Um reduto de paz campestre que, para ser concretizada a obra, arde no fogo. A cidade nasce com a utopia de liberdade sobre os constrangimentos da natureza.

Fausto consegue concretizar a sua obra derradeira, mas cega. No seu último suspiro sente ainda o cheiro doce das tílias desse pequeno mundo desaparecido.

Na peça não chegamos ao vermelho, a cor da realização espiritual final ou união dos místicos, que nas concretizações do homem se pode transformar no dourado, o ouro da pedra filosofal. Encontramos apenas o seu prenúncio, uma espécie de ouro em pó que se encerra nessa brisa com cheiro a tílias.

Sabemos da peça de Goethe que depois da sua morte Fausto torna-se Mestre, aprendeu e pode ensinar. Já não precisa de guias, ele será o novo guia desse grande mundo que criou. O nosso mundo.

Podemos rever-nos nesta peça como num espelho de água, narcisos ou nenúfares em flor em águas límpidas ou em águas turvas, por vezes, ofuscados pela escuridão, pelo nigredo, por vezes, pelo excesso de luz, outras vezes conseguimos ver nesse espelho tudo o que nos rodeia e tudo o que por uma espécie de “toque de magia” acrescentamos ou fazemos desaparecer.

A peça de Goethe trata da origem da liquidificação da vida. Para melhor compreendermos a sua obra talvez valha a pena debruçarmo-nos pelos ensaios do sociólogo Zygmunt Bauman. Os seus diversos livros intitulados Modernidade Líquida, Amor Líquido, Tempos Líquidos, Vida Líquida, ou ainda Medos Líquidos representam as metamorfoses fáusticas na nossa vida quotidiana. Aí encontramos a concretização da análise de Marshall Berman na sua obra Tudo o que é solido se dissolve no ar (1989). Da esfera íntima à esfera pública tudo se transforma numa forma incorporada de capitalismo a que deveremos estar atentos, como apresentou Anne Imhof, na sua versão premiada de Fausto, no Pavilhão da Alemanha, na Bienal de Veneza de 2017.

O Fausto faz parte do ar dos tempos, incorpora hoje todas as personagens, está em Mefistófeles, em Margarida, em Helena, no Homúnculo, em Euphorion, nas criptomoedas, nos apetrechos tecnológicos, nos novos líderes do nosso mundo. Em nós. Fausto dirige uma tempestade a que chamamos de progresso mas onde, por vezes, ainda ecoa na memória o cheiro das tílias e o seus contornos.

BIBLIOGRAFIA:

Barrento, J. (2003). “Introdução”. Fausto de Johann W. Goethe, Relógio D’Água Editores, (5-25)

Berman, M. (1989). “O Fausto de Goethe: A tragédia do Desenvolvimento”. Tudo o que é solido se dissolve no ar. Edições 70 (41-94).

Centeno, Y. K. (2007) “A Alquimia e o Fausto de Goethe”. Teatro e Sociedade Edições Universitárias Lusófonas (77-105).

Goethe, J. W.(2022 [1790]). A Metamorfose das Plantas, Edições do Saguão.

Goethe, J.W. (2003 [1800-]). O Jogo das Nuvens, tradução de João Barrento. Assírio & Alvim.

Goethe, J.W (1999 [1809]). As afinidades electivas. Relógio Dágua.

Goethe, J.W (2013 [1810]). A Doutrina das Cores. Nova Alexandria

Goethe, J. W.(2022 [1790]). A Metamorfose das Plantas. Edições do Saguão.

Cláudia Madeira 

Professora Associada com Agregação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Vice-coordenadora do grupo de investigação Performance & Cognição do ICNOVA NOVA FCSH e investigadora do grupo Teatro e Imagem do Centro de Estudos de Teatro da FLUL. Realizou o pós-doutoramento intitulado Arte Social. Arte Performativa? (2009-2012) e o doutoramento em Sociologia sobre Hibridismo nas Artes Performativas em Portugal (2007) no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. É autora dos livros Performance Art in Portugal (Routledge 2023), Arte da Performance Made In Portugal (ICNOVA 2020), Híbrido. Do Mito ao Paradigma Invasor? (Mundos Sociais, 2010) e Novos Notáveis: Os Programadores Culturais (Celta, 2002), entre outros. Escreveu vários artigos sobre novas formas de hibridismo e performatividade nas artes. Leciona na licenciatura e mestrados de Artes Cénicas e Comunicação e Artes do Departamento de Ciências da Comunicação na NOVA/FCSH. Desde 2017 tem vindo a desenvolver trabalho de dramaturgia em colaboração com o Teatro da Garagem O Canto do Papão Lusitano (a partir de Peter Weiss, Lisboa e Bragança 2017); Teatro de um Homem (L)ido (a partir do livro de E.M. de Melo e Castro, Lisboa e São Paulo, 2018); Outra Tempestade (a partir de Shakespeare e Césaire Lisboa e Cabo Verde, 2023), Fausto (a partir de Goethe, Lisboa, 2024). Recentemente participou nas conferências-performance com dramaturgia coletiva: Tempestade Real (Florianópoles, Agosto 2024) e Crazy Kales (Barcelona, Novembro 2024).

18 DE NOVEMBRO, 18H-20H

Bartholomew Ryan

Os Faustos na filosofia: dúvida, desejo, desespero e negação

A história e a figura de Fausto não só inspiraram a criação de muitas grandes peças, poemas e romances da literatura moderna (Marlowe, Goethe, Lenau, Heine, Stein, Pessoa, T. Mann, K. Mann, J. G. Rosa, Bulgakov, etc.), mas também, embora de forma mais implícita, de importantes obras na filosofia moderna. Fausto foi chamado “personificação da dúvida” por Kierkegaard; A Fenomenologia do Espírito de Hegel (publicada no mesmo ano que a obra de Goethe, Fausto: Parte I) pode ser vista como uma viagem filosófica faustiana; e “o espírito que sempre nega” [der Geist der stets verneint] de Mefistófeles assombra as obras revolucionárias de Marx, Nietzsche e Georg Lukács. Através do mito de Fausto na filosofia, podemos compreender e enfrentar melhor alguns estados interpenetrantes e mutáveis da realidade contemporânea, como a dúvida, o desejo, o desespero e a negação.

Bartholomew Ryan é investigador de Filosofia no Instituto de Filosofia da NOVA (IFILNOVA) da Universidade NOVA de Lisboa e professor convidado no Departamento de Filosofia da FCSH onde leciona um curso de mestrado sobre ‘Arte e Experiência’. É coordenador do Grupo de Investigação “Formas de Vida e Práticas da Filosofia”, e foi coordenador do CultureLab no IFILNOVA de 2017 a 2022. É membro do “Grupo de Investigação em Filosofia e Literatura” e do “Grupo de Estudos sobre Nietzsche”. É ainda membro da equipa de investigação do Projecto Exploratório “Mapping Philosophy as a Way of Life: An Ancient Model, a Contemporary Approach”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Foi docente no Bard College Berlin (2007-2011), e lecionou também em universidades no Brasil, bem como em Oxford, Croácia, Aarhus, Dublin e Bishkek.

O seu trabalho académico e criativo orbita em torno do tema da “transformação” e da pluralidade do sujeito, levando em consideração as múltiplas realidades e identidades que pode construir a condição humana moderna e o ser ecológico. Os principais âmbitos da sua atividade académica são sobre a tensão entre filosofia e literatura, modernismo como um problema filosófico, o teatro do Eu, e a arte ecológica da viver e morrer, com um foco especial sobre figuras como Kierkegaard, Pessoa, Joyce, Nietzsche, e Roger Casement. Os seus próximos dois livros são Fernando Pessoa: Critical Lives(Reaktion Press, 2024) e James Joyce: The Unfolding Art of Flourishing and Decay (OUP, 2025). Também é o autor do livro Kierkegaard’s Indirect Politics: Interludes with Lukács, Schmitt, Benjamin and Adorno (Brill/Rodopi, 2014). É co-organizador de quatro livros, o mais recente é Fernando Pessoa and Philosophy: Countless Lives Inhabit Us (com Antonio Cardiello e Giovanbattista Tusa; Rowman & Littlefield, 2021).

Na área de música: em 2022, lançou um álbum a solo chamado ‘Jabuti’ sob o nome Loafing Hero; e é ainda líder do projeto musical internacional The Loafing Heroes, que lançou o seu sexto álbum, ‘meandertales’, em 2019. Faz também parte do projeto de música experimental Headfoot.

25 DE NOVEMBRO, 18H-21H

Pedro Florêncio

Dos estudos de Goethe aos esboços de Murnau: notas sobre materialismos em Fausto (1926)

Esta sessão terá como caso de estudo o filme Fausto (1926), de F. W. Murnau, do qual veremos três breves excertos acompanhados de comentários sobre os conceitos de “estudo” e “esboço” enquanto subgéneros menores da história da arte. Argumentar-se-á que as obras de J. W. von Goethe e F. W. Murnau estão na base de uma proposta estética em que a filosofia romântica e a modernidade artística se consubstanciam, deixando-nos pistas para a pensar o cruzamento entre arte e ciência nos dias de hoje.

Pedro Florêncio é licenciado em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, mestre em Cinema e Televisão pela NOVA FCSH, doutorado em Artes Performativas da Imagem e Movimento pela Universidade de Lisboa. Realizou, entre outros, os filmes À Tarde (2017), Turno do Dia (2019) e Nocturna (2023). Publicou, em 2020, o livro “Esculpindo o Espaço – O cinema de Frederick Wiseman”, entre outras publicações dispersas sobre cinema. É docente na NOVA FCSH.

CRIAÇÃO TG

 

Johann Wolfgang Von Goethe trabalhou 60 anos da sua vida na obra Fausto. O que é que leva uma pessoa a dedicar 60 anos da sua vida a uma tarefa?  Que queria Goethe com este projecto desmesurado? Salvar a humanidade do seu destino inexorável, trágico, fatídico; repleto de interjeições, mistérios, sobressaltos? Que absoluto busca Goethe? Que podemos aprender com ele?
Muita coisa: o deslumbramento do mundo, da sua multiplicidade, da sua riqueza; de macro a micro e vice-versa; da inelutável fertilidade que contrapõe ao fim o início, como se a morte estivesse colada à acção e ao desejo; como se (re)nascêssemos dessa guerra de Tróia revisitada: matar o adversário é possuí-lo , é amá-lo e conhecê-lo, é comê-lo para o homenagear e para garantir a posse das suas qualidades. 
Viveremos sempre da aniquilação, subjugação, colonização de um outro?
É uma ideia insuportável e ainda assim, continuamos; Goethe continuaria mais 60 anos se o pudesse. 
E por fim, a revelação. 
A de não restar outra possibilidade que a do progresso nos explodir nas mãos, como dispositivos armadilhados: pagers, telemóveis, walkie-talkies, painéis solares; crashes vários, num complô de explosões simultâneas, que nos reduz à ínfima condição de gente nua e assustada, tal e qual a serie televisiva de grande sucesso, só que sem espectadores, nem cenário exótico, já que estamos todos nus e assustados.

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

TEXTO: Johann Wolfgang Von Goethe ENCENAÇÃO: Carlos J. Pessoa DRAMATURGIA: Cláudia Madeira CENOGRAFIA: Herlandson Duarte DESENHO DE LUZ: Luís Bombico FIGURINOS: Miss Suzie ASSISTENTE DE FIGURINOS E CORTE: Dino Lima ASSISTENTES CONFEÇÃO: Carolina Fadigas, Marisa Carboni e Sara Peterson CABELOS E MAKE UP: Miss Suzie e Guilherme Gamito OPERAÇÃO DE LUZ: André Mateus e Luís Bombico OPERAÇÃO DE SOM E VÍDEO: Jorge Oliveira INTERPRETAÇÃO: Ana Lúcia Palminha, André Pardal e Nídia Cardoso FOTOGRAFIA E VÍDEO: Vitorino Coragem COMUNICAÇÃO: José Grilo DESIGN: Sara Kurash DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Raquel Matos PRODUÇÃO EXECUTIVA: Luís Puto e Rita Soares

 

Apoios: Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Universidade Nova de Lisboa
Financiamento: Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

Produção: Teatro da Garagem 
Apoio: Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior 
Financiamento: Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com

 

ACOLHIMENTO

22 e 23 de novembro | Sexta-feira às 21h e sábado às 18h | no Teatro Taborda

Performance dramatizada de algumas páginas da ficção “Foliação – Applebroog-Horn” lidas pelo autor, Alberto Velho Nogueira, acompanhado pelas improvisações de Emídio Buchinho, guitarra e electrónica. As duas linguagens, a da leitura e a do guitarrista, propõem uma intervenção encenada sobre os sinais que o texto fornece, agora recitados num lugar específico para uma percepção dos discursos ficcionais, dando a possibilidade de interpretar ou de transformar os sentidos do texto. A leitura amplifica o trabalho literário ou favorece a complexidade dos sentidos. É uma leitura interpretativa de um modo de conceber o ficcional literário e o ficcional musical numa utilização dramática.

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Leitura a partir de
“Foliação – Applebroog – Horn”
 
Leitura: Alberto Velho Nogueira
Guitarra e electrónica: Emídio Buchinho

Acolhimento: Teatro da Garagem

Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura