ACELERAÇÃO
98ª Criação do Teatro da Garagem
TEXTO E Encenação Carlos J. Pessoa
30 ANOS
 TEATRO DA GARAGEM
11 A 14 JULHO 2019
TEATRO TABORDA
[QUI, SEX, SÁB E DOM | 21h00]

 

 

SOBRE ACELERAÇÃO

Libreto

Aceleração, está dividido em 15 cenas, que correspondem a 15 temas distintos, de acordo com o seguinte guião:

 1ª Cena — Aqueles que Debatem
Tema: O que pode ser o Teatro?

2ª Cena — O Caminho das Quatro Estradas
Tema: Memórias

3ª Cena — Aqueles que Debatem
Tema: O que pode ser uma Pessoa? 

4 ª Cena — Aqueles que se Reconciliam
Tema: Afinidade

5ª Cena — Pássaros que Chilreiam num Pavilhão Vazio
Tema: Crueldade 

6ª Cena — Aqueles que Debatem
Tema: Solidão 

7º Cena — Orquídeas e Caderninhos Pretos
Tema: Inocência 

8ª Cena — O Pai e o Filho que se Reconciliam
Tema: Amor 

9ª Cena — Aqueles que Debatem
Tema: Hipocrisia 

10ª Cena — A Reconciliação da Primavera
 Tema: Coragem

 11ª Cena — Aqueles que Debatem
Tema: Espuma dos Dias 

12ª Cena — Julieta e Romeu
Tema: Paixão

 13ª Cena — Aqueles que Debatem
Tema: Ser, não Ser ou ir Sendo?

 14ª Cena — Tenho um Problema com o Cacém
Tema: Cidade

 15ª Cena — San Sepolcro
Tema: Sonho

 

Meditação

Aceleração é uma cosmogonia cénica. A mesma releva, de um ponto de vista dramatúrgico, de uma conjetura antropofísica. A forma cénica, por sua vez, releva do Coro (constituído por não atores, de múltiplas idades e proveniências), e dos diferentes Corifeus (atores profissionais). O Coro ora fala, ora está, destacando a Cidade. O Corifeu, o ator, destaca o discurso verbal. No mesmo coexiste a autorreferenciação e referências diversas, por vezes, quase secretas. Homenageia-se uma memória cultural, possível, incompleta, fragmentária, com muitas incógnitas, do que talvez tenha sido, — não sabemos ao certo, o que será, o Ocidente.

A conjectura antropofísica propõe a possibilidade cénica da Fé Cristã, se cruzar com a Mecânica Quântica. A Fé Cristã porque é essa, que, descontrolada, nos corre na massa do sangue. Uma Fé bíblica, e de tantas outras leituras, cruza-se, e descruza-se, que os contrários se complementam, com a Mecânica Quântica, o pouco que compreendemos desse universo, fascinante e, tão pouco, intuitivo.

De que Fé falamos?

Da Fé nas pessoas (P)? Podem as pessoas ser partículas elevadas à potência n, isto é, pessoas que podem ser tantas, que são todas, passadas, presentes e futuras, e tão diferentes entre si, como um número natural infinito, um número, inteiro e infinito de pessoas? Ou o infinito, N, é o universo, que reside em cada um?

Se a cada pessoa correspondesse um universo, teríamos um multiverso?

Que extensão inacreditável, que escala, que potência, que, súbito, nada!

E se juntássemos todas essas pessoas, adultos, atores, jovens, crianças, gente, massa de partículas em aceleração, na Nôtre Dame da Costa do Castelo, esse Teatro Taborda, entretanto, erigido, em Aceleração, em coincidência no tempo e no espaço com o incêndio de Paris?

Que teríamos então? Gente em Aceleração numa pequena catedral, numa igrejinha escondida, sob séculos de Teatro, de Fé, de Reconciliação?

Serão a Fé e a Mecânica Quântica, derivações do mesmo milagre de Reconciliação; da ponte fraterna, da solidão solidária?

Somos filhos dos nossos pais e mães.
Vamos morrer um dia.

Seremos, apenas, o álbum de recordações, inventariado, por acasos e circunstâncias, ridículas, numa materialidade que se desvanece em pó?  Haverá uma filogenia, uma propagação ainda mais antiga, uma Voz que nos habita, uma Memória que se expande e contrai, para lá de nós, do eu hedonista e obcecado?

Haverá um legado que se efetiva, na potência, no frenesim e na lentidão, da Aceleração?

Que ritual é este?
Cristão, pagão?
Teologia técnica?

Teatralidade coral, com corifeus dançando no tempo e no espaço, soprando palavras, cantando e dizendo, a beleza e o insólito do espaço e do tempo?

Em que direção seguimos?
Andamos aos círculos?
Vadiamos titubeantes, bêbados, decididos, reconciliados com os ângulos mortos?

Não é possível, nunca, ver tudo, ouvir tudo, perceber tudo.
O que é que se percebe afinal de um espetáculo?
Uma emoção, uma coisinha qualquer que nos toca?

Evocaremos um teatro Isabelino, um fresco Renascentista numa capela, uma caverna Paleolítica?
Para lá da morte continua essa Voz, essa potência de Reconciliação?
É importante tentar compreender a morte; aceitá-la.

Morrer é o corolário natural e digno de viver.
Morrer pode não ser assustador.
Morrer pode ser ajudar o Outro a redescobrir a sua Liberdade, que por sua vez é a Liberdade de Outro, e de Outro, e mais Outro, elevadas à potência N (número infinito).

Será, mesmo, assim?

Aceleração em 15 estações, 15 movimentos, 15 cenas, 15 textos, 15 discursos, de uma oratória, de uma oração, de um lamento, de um grito?
Estações de uma hipotética Via Sacra, ou Via Pagã?
Viaduto do Cacém ou Buraco Negro, de uma galáxia distante?

As pessoas formam uma espécie de Alma Grande, tão grande e, ao mesmo tempo, tão pequena, pequenina, como a inocência de uma criança cuja gravitas, cuja gravidade de um gesto, involuntário, tudo parece absorver.

Uma criança não precisa de representar, basta ser ela própria.

E um adulto, um ator e um não ator, representam o quê?

Uma fórmula patética, uma Paixão caricata, um Rito amalucado, Alegre? Aceleração (A) igual a Reconciliação (R) sobre 15 (passos do espetáculo, da via) vezes P (pessoas) elevadas a N (número infinito)?

Como, com que técnicas?

Todas as técnicas que conhecemos e algumas que tivemos de descobrir. Técnicas do teatro profissional, técnicas do teatro amador, técnicas do teatro universitário, técnicas de comunicação e auto-motivação, fórmulas mágicas, palavras de ordem, palavras-passe, possessão, loucura e transe. E segredos.

Como disse, sabiamente, a Ana Palma: “os atores contam histórias, as pessoas, que participam neste espetáculo, são as histórias, que tornam o teatro, Teatro.”

Da Aceleração à Reconciliação só temos, portanto, de continuar a experimentar esta conjetura antropofísica, em que Mecânica Teatral e Mecânica Quântica se encontram.

Teremos tido coragem suficiente?
Fomos implacáveis o suficiente?
Fomos justos, leais e dignos?
É estúpido, complicar o que é simples.

Nunca sabemos nada.

O essencial como diz o actor/menino Emanuel Arada, aprendemo-lo na infância? Não faço ideia.
Às vezes sabemos e não sabemos que sabemos; outras vezes, esquecemos.
(Ando, quase sempre, esquecido; é uma espécie de truque para tentar manter alguma lucidez.)

Ao longo da História, acontece o horror, o mal.
Temos de fazer escolhas; não dá para hesitar, para ser piegas ou complacente. O mal instala-se, normalmente, sem darmos por isso.

Caímos e levantamo-nos, continuamos.
Não a nossa pessoa, a egomania autoral de cada um, e outros disparates da vaidade humana, das cobardias, da inveja, do português suave, mas a massa, as pessoas, a vida, em aceleração Histórica.
Continua a sentir-se, adivinhar-se, essa potência que produz uma Voz antiga e recente, que se faz ouvir como um sussurro, como poesia dramática, que não vai salvar nada, nem ninguém, mas, talvez… sim… talvez, por hipótese, no reconhecimento do outro, de alguém, doar.

Doar o quê?

Doar-se. Doar-se sem medo, em abnegado tremor, em nervosismo adolescente, de beijo incompleto, de divagar entontecido?  Reconciliação?
Quão ínfimo é o infinito dessa parcela; desse absoluto espartilhado, dividido, massacrado!
É bom, tão bom, abraçar-te. Enquanto dura.

Conclusão

Valerá a pena este esforço, este delírio, este acordo tácito, esta crucificação, esta celebração de 30 anos do Teatro da Garagem? Anos que vivemos, que são nossos e não nos pertencem? Que foram, e são, dádiva, desvanecimento, comoção?
Saberão os que nos escutam, os que nos leem, os que nos julgam e condenam?
Saberão os que, provisoriamente, nos salvam, como a anjos rebeldes em queda?
Saberão os que nos ajudam a ler os universos e as pequenas coisas, na nossa cegueira, no nosso abissal negrume, nesse pairar misterioso; navegação imprudente, sem coordenadas?
Saberão os que têm misericórdia, e nos perdoam, assim nos ensinando a continuar; a viver, mais um dia?
Saberão os que, na sua generosidade, nos reconhecem, gostando, e desgostando, do que fazemos?

Não sabemos, nem temos o direito de exigir nada.

Somos Serviço Público, dedicamo-nos, através do nosso trabalho, ao Teatro enquanto exercício de Cidadania.
O Teatro não pode ser, para ninguém, pelo menos connosco, ocupação de tempos livres ou arte pela arte; é, por respeito a todos, público incluído, que o afirmamos.

Continuar a fazer o nosso trabalho com profissionalismo e paixão.

Isso basta.

E depois, mais importante que dizer, Viva o Teatro da Garagem é dizer,  Viva o Teatro, e mais importante ainda, que o Teatro é dizer Vivam as Pessoas, viva, viva a Vida!

Obrigado.

Carlos J. Pessoa

 

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Texto e Encenação | Carlos J. Pessoa
Assistência de Encenação | Ana Palma
Interpretação | Ana Palma, Constança Carvalho Neto, Diogo Lopes, Emanuel Arada, Miguel Damião, Rita Monteiro e Tiago Bôto

Clube de Teatro Júnior dirigido por Rita Monteiro
Participantes do Clube de Teatro Júnior do Teatro da Garagem | Aline Marques, Anneke Martins, Carlota Nascimento, Carolina Marques, Francisco Silva, Inês Reis, Íris Almeida, Júlia Coelho, Laura Henriques, Manuel Pessoa, Matilde Fernandes, Matilde Gonçalves, Miguel Almeida e Simone Domingues
Clube de Teatro Jovem dirigido por Tiago Bôto
Participantes do Clube de Teatro Jovem do Teatro da Garagem | Catarina Câmara, Gabriela Rodrigues, Gonçalo Fonseca, Jiayi Chen, João Almeida, Lillye Martins, Matilde Henriques, Miguel Fabião, Neuza Figueiredo e Nuno Antunes
Clube de Teatro Sénior dirigido por Ana Palma
Participantes do Clube de Teatro Sénior do Teatro da Garagem | Akiyo Matsumoto, Alexandre Neves, Ana Maria Pereira, Ana Maria Rodrigues, Elsa Venturini, Graça Oliveira, Isabel Aires, Isabel Coimbra, José Pedro Magalhães, Júlia Catita, Júlio Reis, Liliana Pedro, Maria Luísa Guerreiro, Marina Preguiça, Paula Pimentel, Rui Almeida, Rui Fernandes, Sónia Castro e Vanessa Velosa

Música Original (ao vivo) e Sonoplastia | Daniel Cervantes
Cenografia e Figurinos | Sérgio Loureiro
Construção Cenográfica | Tudo Faço – Construção e Montagem de Cenários Lda
Desenho de Luz | Nuno Samora
Assistência Técnica | Carolina Elvira e Manuel Abrantes
Direção de Produção | Maria João Vicente
Produção e Comunicação | Carolina Mano
Assistência de Produção | Joana Rodrigues e Marta Ascenso
Estagiária | Bruna Costa

Fotografia | Alípio Padilha
Vídeo | TEMPER

Apoios | Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento | Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura

M/12 | duração aproximada 120 min

+ INFORMAÇÕES E RESERVAS
producao@teatrodagaragem.com
924213570 | 218854190
www.teatrodagaragem.com

Preçário:
10,00€ – bilhete inteiro
5,00€ – bilhete com desconto para profissionais do espetáculo, estudantes de teatro, maiores de 65 e residentes no bairro

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