ACOLHIMENTO TEATRO DA GARAGEM
105ª Criação do Teatro da Garagem
TEXTOS ALBERTO VELHO NOGUEIRA
DIREÇÃO ARTÍSTICA E ENCENAÇÃO CARLOS J. PESSOA
26 E 27 NOVEMBRO 2021
Teatro Taborda
Sinopse
Teatro Negativo de Alberto Velho Nogueira (AVN), é um espectáculo de teatro, que a partir de 18 textos, escolhidos pelo autor, da obra homónima, monumental, constituída por 1397 textos, introduz o espectador na experiência sensorial de uma escrita única. Sendo um objecto de carácter sinestésico, o espectáculo Teatro Negativo, afirma a sua “negatividade” convocando os sentidos do espectador para uma experiência de correspondências cénicas. Na cena de Teatro Negativo além do autor, o próprio AVN, que acompanha, e completa, a função com a sua bateria, e dos actores, estão mesas, com objectos heteróclitos e electrodomésticos, que servem a ideia de laboratório, de experiência laboratorial; porventura de autópsia, de adivinhação oracular ou de banquete insólito.
As palavras ditas de AVN, a arquitectura meticulosa dos seus textos, de uma ociosidade prodigiosa (no sentido da interminável duração dos mesmos e da exaustão, e/ou pureza, que deles se decanta) desencadeia sons, ritmos, imagens, texturas, formulações e água na boca; sensações misturadas que borbotam o vislumbre de formas dinâmicas, de enlaces narrativos, de um potencial mítico, fílmico e figurativo, que se conluia, na opção de encenação, no regresso à Grécia de três proto-personagens. O Ulisses, écran de todas as iluminações, a Penélope operária-obreira, catarse com meias de lã, e a Calipso, de touca e meias de rede, a encher salsichas nas industrias capitalistas, ou a motivar especulações libidinosas; ambas rivais, no amor, e cúmplices, do novo proletariado logístico, dos serviços à la carte e dos bloqueios transcontinentais.
Este triângulo possível, amoroso e libidinoso, jovial e jocoso, físico e metafísico, patético e patológico, reivindicativo e suicidário, representado pelos actores Diogo Tomaz, Ulisses, Mariana Índias, Penélope e Ana Dias, Calipso, a realizarem o seu estágio de Mestrado da Escola Superior de Teatro e Cinema, serve o encanto caleidoscópio e a densidade de sentidos, que se perpetuam no exercício da relojoaria verbal de AVN.
A “negatividade” de Teatro Negativo é pretexto para investir as formas teatrais de nexos, não necessariamente, novos ou antigos, mas ao menos divergentes de uma ideia de mensagem previsível; moral, política, estética ou confessional.
O espectáculo Teatro Negativo declina possibilidades formais, retomando rupturas, sabotando indícios; qualquer rede de segurança, ou malha, que segure e aprisione a(s) leitura (s).
Teatro Negativo, como o lemos,é, sobretudo, a libertação dessa rede de segurança, de olhar viciado e/ou tribalizado. É, antes do mais, um convite à aventura iniludível, solitária; à caça matreira, à revolução e ao disparate. É o sublinhar do momento díspar que fornece o engodo e a matriz. Como passar do truz-truz, de bater a portas e fugir de seguida, ao triz de quase-qualquer-coisa-que-podia-ser mas, afinal, não nos apetece. Os textos de AVN convidam ao devaneio e à atenção, à fugacidade e à fuga musical, por muito ruidosa que seja. O autor remexe, remorde, e não conclui. Não há conclusão, não há fim para Teatro Negativo, ou haverá?
Há um interminável processo, um devir processo, um devir escrita, um tornar-se escrita, como um micélio aéreo de palavras, um corpo monstruoso que se agiganta e cai. Terá nascido para isso; para cair, cair magnificamente, eloquentemente, como um castelo de cartas; ou até uma invasão de dentes de leão, e outras sementes improváveis, espraiadas ao vento das alterações. O texto como uma natureza transmutada.
A encenação procura tratar desta espécie de fagia de absoluto. Estabelece-se a rejeição de deus, e de qualquer tipo de papado, e a afirmação de uma plenitude intelectual, autoral; de uma convicção inabalável persistente, gentil e corajosa.
Teatro Negativo, de AVN, como o entendemos, como o admiramos, arroga-se a ser; arroga-se a tudo isso que remete para a afirmação, não do tribuno, mas do baterista que pede a palavra. O baterista que pede a palavra, não para dar lições, não para pedir aplauso, ou reconhecimento, não para fazer valer a sua verdade, ou o seu manifesto, nem sequer para tocar bateria, como imaginamos que é tocar bateria. Mas para expressar, cantar, rugir, comer, colorir, texturar, oferecer; pedir a palavra para devolver as palavras; o discurso, na plenitude da sua impossibilidade. Eis, ao fundo da cena, o autor, AVN e a sua bateria em flor; o seu corpo e a sua sombra; o seu negativo e o seu teatro.
Carlos J. Pessoa
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Texto de Alberto Velho Nogueira
Encenação de Carlos J. Pessoa
Interpretação Ana Dias, Diogo Tomaz, Mariana Índias
Música e Composição Sonora Daniel Cervantes
Vídeo Daniel Cervantes
Desenho de Luz André Mateus
Operação de Luz André Mateus
Registo Fotográfico Vitorino Coragem
Direção de Produção Raquel Matos
Produção Executiva Mafalda Ferraz
Comunicação Fidelizarte
Gráfica Branco às Riscas
Uma Produção Teatro da Garagem
Apoios Câmara Municipal de Lisboa, EGEAC, Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Financiamento Direção-Geral das Artes, Governo de Portugal | Ministério da Cultura
M/14 | duração aproximada 60 min
Mais informações:
218 854 190 | 924 213 570
producao@teatrodagaragem.com
Teatro Taborda Costa do Castelo 75, 1100-178 Lisboa
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